Fluoretação das águas cariocas: equilíbrio, risco e vigilância sanitária
- Paulo Castro
- 26 de jul.
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A fluoretação das águas de abastecimento público é reconhecida como uma das estratégias mais eficazes e custo-efetivas para a prevenção da cárie dentária em populações amplas. No entanto, como qualquer intervenção medicamentosa coletiva, o benefício está condicionado ao rigor técnico na manutenção das concentrações recomendadas. O excesso de flúor, assim como sua deficiência, compromete o equilíbrio da medida preventiva, podendo resultar em efeitos adversos como a fluorose dentária.
De acordo com a revisão sistemática de Bashash et al. (2024), publicada no JAMA Pediatrics, níveis cronicamente elevados de fluoreto sistêmico, especialmente acima de 1,5 mg/L, podem estar associados a redução de QI em crianças. Embora esses dados envolvam populações com exposições extremas e descontroladas, o achado reforça a necessidade de vigilância e controle técnico rigorosos sobre o processo de fluoretação da água.
No estado do Rio de Janeiro, dados recentes analisados por Paulino et al. (2024), com base no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água (Sisagua), mostram que, embora a maioria dos municípios apresente índices dentro da faixa recomendada (0,6 a 0,9 mg F/L), há exceções importantes, com registros de fluoreto acima do Valor Máximo Permitido (VMP = 1,5 mg/L).
Os seguintes municípios apresentaram níveis elevados de fluoreto em períodos recentes:
Maricá: em 2017, 28,7% das amostras excederam o limite permitido;
Duas Barras: 16,6% das amostras em 2017 estavam acima de 1,5 mg/L;
Pinheiral: apresentou os piores índices, com 88,4% das amostras acima do VMP em 2017, além de taxas elevadas em 2019 (28,4%) e 2021 (23%).
Esses dados demonstram que, mesmo com diretrizes técnicas bem estabelecidas, há falhas operacionais relevantes em parte do sistema de abastecimento, o que pode levar à exposição desnecessária de segmentos populacionais a riscos iatrogênicos. Tais ocorrências tornam evidente a importância da auditoria externa, monitoramento sistemático e responsabilização técnica no processo de fluoretação.
Referências: Bashash M, Ghassabian A, Thomas D, et al. Association of Fluoride Exposure With IQ Scores in Children: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Pediatr. 2024;178(1):38–47. doi:10.1001/jamapediatrics.2023.4793 Paulino
W, Oliveira I, Silva R, et al. Avaliação da fluoretação das águas de abastecimento no estado do Rio de Janeiro entre 2017 e 2022. XV ENAU – ABRHidro. 2024. Maia LC, Valença AMG
Soares EL, Cury JA. Controle operacional da fluoretação da água de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública. 2003;19(1):61–67. doi:10.1590/S0102‑311X2003000100010




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