Reimplante intencional: Temos por aqui (quando dá para fazer!)
- Paulo Castro
- 9 de mai.
- 3 min de leitura
No artigo de hoje, abordaremos o reimplante intencional, uma modalidade terapêutica que, em casos selecionados, oferece uma alternativa conservadora para a manutenção do elemento dental. Discutiremos os aspectos técnicos relevantes e suas aplicações clínicas.
Definição e Princípios do Reimplante Intencional
O reimplante intencional consiste na exodontia deliberada de um dente com subsequente tratamento extra-alveolar e reinserção no alvéolo original. Esta técnica é considerada quando o tratamento endodôntico convencional é inviável devido a complexidades anatômicas, obstáculos intrarradiculares (e.g., instrumentos fraturados) ou a necessidade de procedimentos cirúrgicos apicais complexos com acesso limitado intraoralmente.
Indicações e Critérios de Seleção
A indicação para o reimplante intencional requer uma avaliação criteriosa de diversos fatores:
Integridade estrutural radicular: A ausência de fraturas radiculares extensas é um pré-requisito fundamental.
Viabilidade do ligamento periodontal: A minimização do tempo extra-alveolar (idealmente < 15-20 minutos) é crucial para preservar a vitalidade das células do ligamento periodontal, essencial para a neoformação de fibras colágenas e a reanatomose da interface cemento-osso.
Condições periodontais do sítio receptor: A ausência de inflamação periodontal ativa e a presença de suporte ósseo adequado são fatores prognósticos favoráveis.
Morfologia radicular: Dentes com anatomia radicular simples tendem a apresentar melhor prognóstico.
Cooperação do paciente: A adesão rigorosa às instruções pós-operatórias influencia diretamente o sucesso do tratamento.
Aspectos Técnicos Relevantes
O protocolo clínico envolve:
Exodontia atraumática: Minimizar danos ao ligamento periodontal e ao osso alveolar é essencial.
Tratamento extra-alveolar: Realização dos procedimentos endodônticos ou cirúrgicos necessários (e.g., remoção de instrumentos, apicectomia com retrobturação utilizando materiais biocompatíveis como MTA). O tempo extra-alveolar deve ser rigorosamente controlado, mantendo o dente em um meio fisiológico (e.g., solução salina balanceada de Hanks - HBSS) para preservar a viabilidade celular.
Reimplante imediato ou tardio (raramente): O reimplante imediato é preferível. O dente deve ser posicionado passivamente no alvéolo, evitando forças excessivas.
Estabilização: A contenção com splint flexível por um período de 7 a 14 dias é recomendada para permitir a cicatrização periodontal.
Acompanhamento pós-operatório: Monitoramento clínico e radiográfico para avaliar a cicatrização periodontal, a ausência de reabsorção radicular e a manutenção da função.
Considerações em Pacientes Usuários de Bisfosfonatos
Em pacientes sob terapia com bisfosfonatos, o risco de osteonecrose dos maxilares (ONM) é uma preocupação significativa. Embora o reimplante intencional possa ser considerado em casos selecionados como uma alternativa a implantes, a decisão deve ser individualizada, ponderando o tempo de uso e a potência do bisfosfonato, a condição periodontal e a minimização do trauma cirúrgico. A comunicação com o médico assistente do paciente é fundamental.

Ilustração Clínica
O caso previamente apresentado do dente 26 demonstra a aplicação bem-sucedida desta técnica. A abordagem conservadora, evitando procedimentos mais invasivos como o levantamento sinusal ou a instalação de implantes em um paciente com histórico medicamentoso relevante, resultou em resolução da sintomatologia e manutenção da função do elemento dental após um período de acompanhamento. A brevidade do tempo extra-alveolar e a técnica cirúrgica atraumática foram fatores cruciais para o sucesso.

Conclusão
O reimplante intencional representa uma modalidade terapêutica valiosa para casos específicos, permitindo a preservação do dente natural em situações complexas. O sucesso depende de uma criteriosa seleção do caso, da execução de uma técnica precisa e da colaboração do paciente no período pós-operatório. A compreensão dos aspectos técnicos e das considerações em pacientes com condições sistêmicas, como o uso de bisfosfonatos, é fundamental para a tomada de decisão clínica.




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